Um dia, quando o amor se torna uma necessidade, as pessoas abrem o coração para que outra possa entrar e, juntas, se tornam uma só.
A hora de Mariana havia chegado. Entrou em casa apressada do trabalho naquele dia, pois precisava se arrumar logo. Pensando que na noite poderia encontrar alguém que a fizesse feliz, a moça se arrumou para ir à caça: secou o cabelo, colocou o seu melhor vestido, se perfumou e maquiou. Na boca, batom vermelho. Ela sorriu para o espelho, colocou o salto alto e despediu-se dos pais com um beijo.
_ Vai com Deus! Juízo, Mariana. _ Disse a mãe.
Pegou a chave do carro do pai, como de costume, e foi em direção à casa de uma amiga que pediu carona. Ao entrar no carro e ver Mariana, Débora, a amiga, exclama:
_ Nossa! Mas você está indo pra matar, hein?!
_ Caprichei hoje para encontrar o meu príncipe, amiga. _ Respondeu Mariana, sorrindo.
Ao som de Radiohead, banda preferida de Mariana, as amigas vão para o bar combinado.
Fernando, dono de uma pequena concessionária na cidade, já estava lá. Chegou horas antes. Mariana e a amiga entraram. O rapaz ficou no andar de cima. Mariana no de baixo com as amigas. Enquanto ele brinda com cerveja, Mariana toma água com gás. Ambos observam todos ao redor, como garimpeiros à procura de ouro. Eles têm a mesma idade, moram no mesmo bairro, gostam das mesmas músicas, dos mesmos filmes, mas não sabem.
Um brinde à faculdade, um brinde à vida, um brinde ao futuro, brindaram à noite a noite inteira. Mariana comemora o último semestre da faculdade e Fernando, que bebe praticamente todos os dias, comemora mais um final de semana.
Próximo da hora em que tinha combinado com os pais de chegar em casa, Mariana chama Débora, se despedem das amigas e vão embora. A moça paga suas águas com gás, uma pequena porção de batata frita e compra um chiclete de melancia, sabor preferido de Fernando. Pega a chave na bolsa, entra no carro com a amiga, tira o salto e vão embora, ouvindo Radiohead. Chega à casa de Débora e se despedem. Espera a amiga entrar e dirige rumo à sua casa.
Fernando saiu do bar pouco tempo depois que as amigas saíram. Alterado, erra a senha do cartão de crédito. Compra um chiclete de melancia, sabor preferido de Mariana. Despede-se dos amigos, entra no automóvel e vai sozinho para outro bar. Liga o som do carro e ouve Radiohead, sua banda preferida.
Mariana e Fernando poderiam ter se conhecido naquela noite, caso a moça se assentasse no andar de cima ou se o rapaz tivesse se assentado no andar de baixo. Porém o amor é assim: às vezes está perto, mas distante ao mesmo tempo. Mariana, que sempre quis conhecer o amor, poderia tê-lo encontrado em Fernando e ele encontrado o amor em Mariana. Entretanto isso se tornou impossível naquela noite. Próximo à casa da moça, no cruzamento entre duas avenidas molhadas pela água da chuva, foram os carros deles que se encontraram. Bêbado, Fernando não respeitou a sinalização e, avançando o sinal vermelho, a frente de seu carro bateu no lado esquerdo do carro em que Mariana estava.
Se Fernando não tivesse dirigido bêbado, eles teriam se encontrado alguns dias depois. Mariana conheceria o amor e Fernando também, se tornando uma pessoa melhor. Eles seriam felizes e realizariam os seus sonhos juntos.
Entretanto, na noite em que a moça se vestiu para matar e encontrar o seu príncipe, ela foi morta por ele.
Guilherme Givisiez